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Historiador italiano questiona origem da pizza e gera furor na Itália


Alberto Grandi, pesquisador de história da alimentação da Universidade de Parma, coloca ainda em questão a origem de pratos como carbonara, tiramisu e panetone. Pizza do restaurante “A Pizza da Mooca”, de São Paulo.
Reprodução/ Instagram
Criticar a comida e duvidar da origem de pratos de povos mediterrâneos não costuma ser nada bem recebido nessa região do mundo tão apegada à sua cultura gastronômica. Agora, se esse questionamento é direcionado a um italiano e ainda coloca em dúvida a pizza, a briga é certa.
É o que está fazendo o historiador da Universidade de Parma Alberto Grandi. Em uma entrevista ao jornal “Finantial Times” na semana passada, Grandi, que pesquisa a história da gastronomia e da alimentação, afirmou, entre outras coisas, que a cozinha italiana como a conhecemos hoje é na verdade mais norte-americana do que italiana.
Na entrevista, ele disse, também:
Que a carbonara – molho tradicional italiano – foi criada, na verdade, nos Estados Unidos;
Que o queijo parmesão feito hoje em dia é menos fiel à receita original que um queijo produzido no estado de Wisconsin, nos Estados Unidos;
Que o tiramisu e o panetone são invenções bem recentes;
E que a pizza, que era uma “porcaria”, só foi “salva” após chegar aos Estados Unidos – sim, nem o prato italiano mais conhecido no mundo se salvou.
“Enquanto permaneceu em Nápoles, a pizza era uma grande porcaria. Mas quando chegou a Nova York, ela ganhou novidades e, principalmente, o molho de tomate, tornando-se a maravilha que conhecemos hoje”, afirmou Grandi ao jornal italiano Corriere della Sera. “Sem a viagem dos italianos à América, tenho que certeza de que a pizza teria desaparecido”.
A tese de historiador é que, em um projeto de criar sua identidade, a Itália “inventou” origens para pratos que já existiam ou que surgiram ou foram melhorados a partir da influência de outras regiões do mundo, como os Estados Unidos e até o Brasil.
“Confundimos identidade com raízes. A nossa história é repleta de pessoas que emigraram para a América, para o Brasil, para a Bélgica”, disse o historiador na entrevista.
Mas a ideia não foi nada bem recebida entre seus conterrâneos. Ele foi criticado por uma série de políticos, e, nas redes sociais, internautas italianos chamam Grandi de charlatão e midiático.
“Esse homem teve uma infância miserável com uma família que não sabia cozinhar e agora quer reescrever a história. Me pergunto quanto o governo francês deve estar pagando para que ele fale essas coisas”, disse uma internauta italiana – França e Itália frequentemente disputam o título informal de melhor cozinha na Europa.
Pesquisador também questiona as raízes do panetone, que, para ele, foi criado apenas recentemente.
Unsplash /Jennifer Pallian
A Coldiretti, a principal associação de produtores e fazendeiros italianos, disse se tratar de oportunismo do historiador, que, para o grupo, quer ganhar atenção justo no momento em que a Itália tenta tornar sua gastronomia um patrimônio da humanindade.
Na semana passada, o Ministério de Cultura da Itália apresentou a candidatura da gastronomia italiana ao título de Patrimônio Cultural da Unesco.
A proposta será avaliada e decidida até 2025.